Chico Buarque de Holanda

"Mesmo que os cantores sejam falsos como eu/ Serão bonitas, não importa/ São bonitas as canções/ Mesmo miseráveis os poetas/ Os seus versos serão bons"

Ao adormecer

(18/04/2010)



A geladeira vazia. As mãos atadas. À noite, o medo do dia. E o

dia aguarda, espreita, enfada. E eu, um nada. Os pensamentos

vão... vãos, na noite fechada. Os olhos molhados. Coração

apertado. Estômago apertado. Cobertor rasgado. O frio. O bolso

vazio. Cobranças. A espera por mudanças. As pernas atadas.

Sonhos no chão. Vida distante, afastada. Já a morte, não. A

burrice. A corrida para outra realidade. Como quem visse, ali à

frente, o fim da necessidade. Mente afoita. Corpo cansado. Vida

que açoita e pisa um desgraçado. Chego a crer que vivo, até

fechar os olhos, indeciso. E, sempre ativo, finjo dormir na paz de

que preciso.

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